Para o próximo Presidente, direito trabalhista é problema a ser eliminado
Escrito por: Redação CUT
Edu Andrade / MT

Protesto de trabalhadores do MT contra o fatiamento da pasta
O
fim do Ministério do Trabalho, anunciado pelo presidente eleito Jair
Bolsonaro, sob pretexto do equilíbrio das contas públicas, tem como alvo
o fim dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Para Bolsonaro,
que acredita que ser patrão no Brasil é horrível, ter um ministério que
fiscaliza o combate escravo e as condições de trabalho é um problema a
ser eliminado.
"Para que existir, se a sua função é tida como um dos maiores empecilhos para o sucesso do projeto de país que essa gente aspira? O principal alvo dessa guerra não é o MT, é o trabalhador e a trabalhadora e, portanto, o trabalho, no sentido dos direitos conquistados", diz o professor Marco Gonsales, da Universidade São Judas Tadeu, em entrevista ao jornalista Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual.
"Há pelo menos 50 anos, países centrais e periféricos realizam os ajustes rumo à tão sonhada austeridade fiscal. Em suma, eliminam direitos sob o pretexto do equilíbrio das contas públicas."
As consequências nocivas ao trabalhador serão várias, enumera o professor. "Para quê fiscalização se o trabalho análogo a escravidão será legalizado com as carteiras verde e amarela?", questiona Gonsales, que complementa: "Os empresários não terão mais motivos para não formalizar os seus trabalhadores. Direitos conquistados ao longo do século 20 serão suprimidos".
Confira a entrevista na íntegra:
"Para que existir, se a sua função é tida como um dos maiores empecilhos para o sucesso do projeto de país que essa gente aspira? O principal alvo dessa guerra não é o MT, é o trabalhador e a trabalhadora e, portanto, o trabalho, no sentido dos direitos conquistados", diz o professor Marco Gonsales, da Universidade São Judas Tadeu, em entrevista ao jornalista Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual.
"Há pelo menos 50 anos, países centrais e periféricos realizam os ajustes rumo à tão sonhada austeridade fiscal. Em suma, eliminam direitos sob o pretexto do equilíbrio das contas públicas."
As consequências nocivas ao trabalhador serão várias, enumera o professor. "Para quê fiscalização se o trabalho análogo a escravidão será legalizado com as carteiras verde e amarela?", questiona Gonsales, que complementa: "Os empresários não terão mais motivos para não formalizar os seus trabalhadores. Direitos conquistados ao longo do século 20 serão suprimidos".
Grande parte do atual e do futuro governo é composta por grupos empresariais responsáveis pelo trabalho escravo e infantil no país, tanto no campo quanto nos centros urbanosEle avalia que a situação irá piorar, em um país que já tem 27 milhões de desempregados ou subempregados. "Quase metade da classe que trabalha no Brasil reclama por salários atrasados, um quinto implora por uma alimentação digna e outros 16% por mínimas condições de trabalho".
Confira a entrevista na íntegra:
Qual o significado, em termos institucionais, do fim ou do "fatiamento" do Ministério do Trabalho?
Temer
e Bolsonaro são faces da mesma moeda. A diferença é o como fazer, mas o
objetivo é o mesmo. Para esses representantes das frações dominantes
brasileiras, o objetivo é claro: manter o Brasil na posição de país
subalterno, semi-periférico, norteado pelos interesses do grande capital
internacional. É assim que a nossa elite aprendeu historicamente a
acumular riqueza, se perpetuar no poder e saquear o país: explorando o
trabalhador e trabalhadora e/ou entregando as nossas riquezas, naturais e
socialmente construídas. Veja o caso da Embraer. Um patrimônio
brasileiro que FHC privatizou, Temer preparou e será entregue
definitivamente por Bolsonaro.
O desmantelar do MT
não é de hoje. Quem não se lembra da nomeação de Cristiane Brasil, por
Michel Temer, para a pasta do ministério? A filha de Roberto Jefferson
tinha sido processada pela Justiça do Trabalho, além de possuir três
ações movidas contra ela por três antigos trabalhadores. Já o atual
ministro, Caio Luiz de Almeida, Vieira de Mello, recebeu 24 atuações
entre 2005 e 2013 da própria pasta que passou a comandar. Um escárnio!
Como
apresentado, de maneira ainda muito leviana, pra não dizer amadora,
pelo futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a Secretaria
de Políticas Públicas deve ficar com os ministérios da Economia, de
Paulo Guedes, e Cidadania, de Osmar Terra. Este último foi ministro do
Desenvolvimento Social de Michel Temer e responsável pelo cancelamento
de 85 mil auxílios-doença e pelo corte de 4,4 milhões de famílias do
Bolsa Família.
Em suma, o fim do MT começou a ser
desenhado após o golpe parlamentar de 2016. Para que existir, se a sua
função é tida como um dos maiores empecilhos para o sucesso do projeto
de país que essa gente aspira? O principal alvo dessa guerra não é o MT,
é o trabalhador e a trabalhadora e, portanto, o trabalho, no sentido
dos direitos conquistados. As frações burguesas brasileira, e de muitos
outros países periféricos, vivem ancoradas na lógica do capitalismo de
rapina.
Parece fato que o MT deixou de ter
peso nas decisões governamentais. Mas sua extinção não enfraquece ainda
mais a área social, em favor da econômica, predominante? A balança não
fica ainda mais desequilibrada?
A
balança, que por aqui nunca teve equilíbrio, também, desde 2016, pende
radicalmente a favor do capital. Um fenômeno também global
característico desta fase neoliberal do capitalismo. Há pelo menos 50
anos, países centrais e periféricos realizam os ajustes rumo à tão
sonhada austeridade fiscal. Em suma, eliminam direitos – sob o pretexto
do equilíbrio das contas públicas. É claro que esse caminho não é
linear, cada povo tem as suas particularidades sociais, culturais e
políticas, há também os conflitos entre os próprios capitalistas, além
das lutas das classes subalternas que também dão o tom neste processo.
A
própria América Latina elegeu diversos governos progressistas no começo
deste século em meio ao período neoliberal capitalista. O próprio
México, ao que tudo indica, deve adentrar em um período de conquistas de
direitos pelas classes subalternas. Mas não há dúvida, o capitalismo em
sua fase neoliberal – principalmente após as quedas da URSS e do muro –
desequilibra a balança das lutas de classes a favor das elites. Não por
menos, os estudos sobre a desigualdade social no capitalismo
contemporâneo, de Thomas Piketty, são best-sellers.
Como
fica, por exemplo, a atuação dos grupos móveis de fiscalização de
combate ao trabalho escravo, criados em 1995 e que se tornaram uma
política do Estado? Lembrando que essa ação específica sempre esteve na
mira de grupos críticos ao que chamam de "excessivo" rigor da lei.
Para
quê fiscalização se o trabalho análogo a escravidão será legalizado com
as carteiras verde e amarela? Segundo Paulo Guedes, a carteira de
trabalho verde e amarela garantirá apenas três direitos: férias
remuneradas, 13º e FGTS. Os empresários não terão mais motivos para não
formalizar os seus trabalhadores. Direitos conquistados ao longo do
século 20, como salário mínimo, hora extra, vale transporte, aviso
prévio, seguro-desemprego, repouso semanal remunerado, salário-família,
licença-maternidade, licença-paternidade auxílio-doença, adicional
noturno, insalubridade e aposentadoria, serão suprimidos. No mais, a
fiscalização é uma das principais funções do MT. No entanto, grande
parte do atual e do futuro governo é composta por grupos empresariais
responsáveis pelo trabalho escravo e infantil no país, tanto no campo
quanto nos centros urbanos. A União Democrática Ruralista (UDR), uma das
organizações de classe que mais apoiou o Bolsonaro, chama de “indústria
das multas de cunho ideológico” as equipes de fiscalização do
ministério.
Em relação às políticas
públicas, o que se pode esperar caso essa área específica fique mesmo
sob o comando de Paulo Guedes na Economia?
O
principal objetivo do MT é pensar a geração de emprego. No Brasil,
hoje, há mais de 27 milhões de desempregados ou subempregados e fica
evidente que este quadro deve piorar. A política pública do futuro
governo, no âmbito do trabalho, nós já sabemos. É a criação das
“carteiras de trabalho verdes e amarelas”, idealizadas por Paulo Guedes.
Uma sequência lógica após a reforma trabalhista realizada pelo governo
Michel Temer. Em suma, ambas seguem a linha de muitas outras reformas
realizadas recentemente em grande parte do mundo, onde o trabalho
intermitente e com nenhum ou quase nenhum direito garantido, tem sido
regulamentado. Em suma, regulamenta-se a desregulamentação. É a
legalização do trabalho análogo a escravidão. É um mundo onde ser
explorado (legalmente), tornou-se um privilégio.
A
partir da pasta do Trabalho se elaboram também, por exemplo, normas
técnicas de segurança e saúde no trabalho. Essa função pode ficar
comprometida?
Não tem como não ficar
comprometida. Temos uma média de 700 mil acidentes de trabalho por ano
no Brasil. Ocupamos o trágico quarto lugar no mundo em ocorrência de
acidentes de trabalho, atrás somente da China, Índia e Indonésia. Mais
da metade da classe trabalhadora brasileira necessita da hora extra ou
faz jornada dupla, em casa ou em outro emprego. Segundo o Dieese, há
cinco anos, a classe trabalhadora brasileira realiza uma média de 2 mil
greves por ano. Somos um dos países que mais pulsa no mundo. Os
principais motivos para as greves são: atraso de salário (38%), reajuste
(30%), alimentação (18%), condições de trabalho (16%). Em suma, a quase
metade da classe que trabalha no Brasil reclama por salários atrasados,
um quinto implora por uma alimentação digna e outros 16% por mínimas
condições de trabalho. Não tem como o Brasil não ser um dos lugares mais
perigosos para se trabalhar no mundo e, com toda certeza, esse cenário
só deve piorar com o futuro governo. Em suma, tanto a fiscalização
quanto a segurança do trabalho devem ser menosprezadas, assim como já
são pelo o atual governo.
E os recursos do FAT e do FGTS, como ficaria sua gestão?
Aparentemente,
os recursos do FAT e do FGTS, capital da classe trabalhadora, deve
ficar com a pasta da Economia, um patrimônio de R$ 800 bilhões. Acenam
revisar parte dos gastos obrigatórios e Paulo Guedes, recentemente, se
posicionou favorável a restringir e até acabar com o abono salarial e
com o seguro-desemprego. Em suma, mais direitos suprimidos, um saque, à
luz do dia, à classe trabalhadora brasileira.